Hoje trago um mito da civilização Maia.
O povo maia foi um povo pré-colombiano que vivia na América Central. Era uma civilização bem desenvolvida: estudavam o céu e os fenômenos da natureza (prevendo fenômenos como terremotos com precisão espantosa), tinham seu próprio sistema de calendário e de marcação do tempo (o que significa que estudavam e valorizavam a história), possuíam linguagem escrita e tinham até mesmo um sistema de água encanada! Ao contrário de diversos povos nativos, os maias não eram nômades, eram fixos no espaço em que viviam, onde construíam cidades com praças, templos e diversos tipos de edifícios com arquitetura característica, para os mais diversos fins. Os descendentes dos maias sobrevivem até hoje, e alguns de seus idiomas ainda são falados em certas regiões.
O mito que eu gostaria de contar é o de Kinich Ahau. O domínio deste deus é bastante vasto: é o deus do sol, da música e da poesia, mas também das doenças e da finitude da vida (lembrem-se que o sol nasce e também se põe). Geralmente era representado como um homem maduro ou já idoso, com um espiral saindo da ponta de seu nariz e, algumas vezes, com barba. A jade era uma pedra muito utilizada em suas representações, bem como cores solares (amarelo, vermelho, laranja...). Kinich Ahau era ainda associado aos guerreiros maias (fortes e implacáveis como o sol quente da América Central) e aos governantes e líderes, que tinham uma ligação especial com este deus (note que ter essa ligação é bem diferente de ser o representante do deus na terra ou uma personificação, como muitos povos antigos consideravam seus líderes).
Kinich Ahau é um deus que considero muito interessante pelo seu poder de mudança. Durante o dia, ele é o sol (para os maias, a mesma palavra era usada para dizer tanto "sol" quanto "dia"). À noite, se transforma em jaguar e vaga pela escuridão. Ele era o próprio sol, por isso, se não estava no céu, na certa estaria em outro lugar - envolvido em outras atividades. É interessante perceber que o jaguar é um dos principais predadores da região em que viviam os maias. E fica o mistério no ar: por que o sol, aquele que governa e permite que a vida se mantenha, à noite, nas sombras, se transforma no maior dos predadores? Até mesmo os deuses têm sua sombra! É nas sombras do nosso inconsciente que se escondem lados nossos que não se mostram à consciência. Como são esses lados? Como seria viver com eles? Só saberemos se fizermos tal como Kinich Ahau e nos permitirmos vagar pelas sombras de tempos em tempos!
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